Orgânicos é comida de verdade na mesa

Orgânicos é comida de verdade na mesa

A importância dos alimentos orgânicos para a saúde foi tema do webinar “Orgânicos: comida de verdade na sua mesa”, promovido pelo Instituto Brasil Orgânico na última quarta-feira, dia 12 de agosto. Mediado pela vice-presidenta do Instituto, Bela Gil, o evento foi pautado por questões como a integridade dos alimentos, a agenda para alimentação saudável e sustentável e como facilitar o acesso dos brasileiros à esses produtos. 

A nutricionista e diretora da VP Nutricional, Valéria Paschoal, explicou que vivemos em uma sindemia global, ou seja, um paradoxo em que a obesidade e a desnutrição estão conjugadas a mudanças climáticas. Esta sindemia está relacionada ao sistema global de industrialização, a homogeneidade do consumo e da produção de alimentos. A globalização gerou a monocultura, o uso de agrotóxicos e a criação de muitos alimentos ultraprocessados.

Em sua apresentação, a nutricionista mostrou que os alimentos ultraprocessados tem um potencial de carga ácida da dieta (PRAL) acidificante, que está relacionado com todas as doenças crônicas degenerativas não transmissíveis, como: câncer, diabetes, pressão alta e doenças neurológicas.

Já alimentos orgânicos, biodinâmicos e agroecológicos possuem uma quantidade maior de fenólicos, que oferecem diversos benefícios para a saúde. Entre eles: o aumento da imunidade, baixo risco de doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade. Uma dieta alimentar com estes alimentos pode diminuir em até 70% a ocorrência de doenças.

O Prof. Carlos Monteiro, pesquisador e coordenador do NUPENS da USP, apontou que houve duas grandes mudanças no sistema alimentar: a industrialização excessiva da agricultura e o fato do alimento ter se tornado um potencial veículo de contaminantes.

De acordo com o pesquisador, a industrialização trouxe pontos positivos para a produção de alimentos, como a mecanização da produção, o uso de tecnologias e o aumento da duração dos alimentos. Entretanto, há um limite que foi ultrapassado para aumentar a produtividade.

“Passamos do limite porque passamos a ter um interesse, quase uma obsessão, em aumentar a produtividade das colheitas. Isso levou a opção por poucos alimentos. Quando você industrializa a agricultura, você não quer produzir 50, 100 tipos de variedades, quer um alimento e uma variedade, porque você vai investir naquele instrumento, pesticida, adubo que vai servir para aquela espécie. A industrialização levou ao empobrecimento da oferta de alimentos”, disse.

O outro problema é a transformação do alimento em um veículo de contaminantes, que há décadas eram apenas microorganismos e hoje, são agrotóxicos e outros compostos químicos. 

“A industrialização excessiva torna o alimento em fonte de matérias-primas para fazer alimentos baratos, de baixo custo para a indústria. Usam a soja, o milho ou a cana como fornecedor de carboidratos, proteínas, gorduras, que a indústria combina com aditivos químicos e faz alimentos ultraprocessados, a partir de formulações de ingredientes que não se sabe de onde vem o alimento”, disse Monteiro.

Essa transformação dos alimentos leva, segundo o professor, à destruição da matriz alimentar, ou seja, a separação de nutrientes, fibras e outros compostos presentes no alimento.

“Precisamos dessa matriz integra para termos tudo o que tem nos alimentos, para ter saúde e em grande variedade outra vez. Essas mudanças comprometeram a diversidade, a integridades e tornaram os alimentos em veículos de contaminantes”, pontuou.

Monteiro ressaltou também, que não adianta consumir produtos ultraprocessado enriquecidos com fibra, por exemplo, porque ela não estará acompanhada dos componentes fenólicos.

A socióloga Paula Johns, da Aliança pela Alimentação Saudável e Adequada, acrescentou que estas mudanças no sistema alimentar estão relacionadas a concentração de mercado e consequentemente, a redução na biodiversidade e na qualidade dos alimentos e ao acesso fácil de ultraprocessados.

“Quanto mais concentração, quanto mais poder econômico, mais capacitadas estarão as grandes empresas de alimentos ultraprocessados para fazer lobby para que as políticas atendam aos seus interesses e não da população como um todo. É uma batalha tentar equilibrar um sistema com uma simetria de poder gigantesca. É muito barato produzir uma bolacha com valor nutricional negativo e isso tem todo um custo”, criticou.

Para melhorar a alimentação no país, a Aliança propõe a regulação de políticas públicas; a tributação de refrigerantes e bebidas adoçadas e idealmente todos os alimentos ultraprocessados; garantir a alimentação saudável no ambiente escolar; restringir o marketing direcionado para crianças; entre outros.

“A responsabilidade sobre a alimentação é do coletivo, é de todos, de cada um de nós. Não é só sobre a minha possibilidade de escolha, mas é quanto a gente participa deste processo como um cidadão. A responsabilidade é coletiva”.

Assista ao webinar completo.